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O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro.

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O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro. Empty O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro.

Mensagem por Rotieh Seg Nov 29, 2010 3:17 pm

O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro. Dw-1

Texto removido do Blog da Daragões: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]

Como parte do meu trabalho, eu visito escolas para divulgar o RPG como tecnologia educacional e, de alguma forma, conseguir novos RPGistas.

O que vou relatar para vocês foi uma experiência diferente de outras. Eu já conhecia o local: uma escola pública de dar inveja a muito colégio particular. Tudo muito limpo, salas impecáveis e a biblioteca então? Uma primazia! Entretanto meu primeiro contato com esse colégio foi em um dia não letivo. Não conheci os alunos atuando ali.

No dia da visita, para conhecer os alunos e a dinâmica do dia-a-dia do colégio, outra grata surpresa: ao invés de ter um sinal, o aviso sonoro que indicava o início e término do intervalo era musica clássica. Na verdade não sei o quão bom isso pode ser. Talvez algum aluno associe a música com o momento “ruim” de voltar para a sala. Enfim, não pretendo fazer suposições sobre isso. O que importa é que achei uma iniciativa muito boa, principalmente por ser diferente das outras escolas. E parecia dar resultados, todos os alunos voltaram calmamente para suas salas, alguns que estavam com bolas de futebol entre outros artigos esportivos, se direcionaram para a secretaria e devolveram educadamente e se direcionaram para suas salas – sem birra!

Assim começava a minha experiência nesse colégio: estava cheio de expectativa e entusiasmado com a possibilidade de atuar com o RPG num lugar tão bacana. Inclusive cheguei a pensar se o RPG faria muita diferença ali, afinal, parecia um modelo ideal de escola.

O pesadelo começou pouco depois disso. Um aluno, que estava numa quadra mais distante, estava vindo, feliz, para devolver a bola e ir para sua sala. Ele vinha sorrindo e brincando com a bola, passando-a de uma mão para outra. Não prestei atenção no momento exato, creio que ele se distraiu, e a bola caiu de suas mãos. Ele rapidamente a pegou, com uma feição de medo, depois de dois “quiques” no chão. Aí eu entendi a pressa e o medo. Três funcionárias – não sei exatamente a função, inspetora, limpeza, não sei – começaram uma gritaria com o menino que chegou a me assustar, como se ele tivesse batendo em alguém.

- Você sabe que o horário de bater bola já acabou! Porque ainda insiste em ser diferente. Acha que é melhor que os outros e pode jogar bola onde bem entender e a hora que quiser? Se na sua casa não te regras aqui tem moleque! – foram algumas das palavras que as funcionárias gritavam para ele.
Fiquei embasbacado com a situação. Ele devolveu a bola, quieto e sem o sorriso que tinha outrora no rosto, e voltou para sua sala enquanto as mulheres ainda praguejavam sobre ele.
Como isso me chamou muito atenção, comecei observar com mais cuidado o tratamento com os alunos, até chegar o momento que eu falaria com eles. Pouco depois desse episódio, um jovem, devia ter apenas 11 ou 12 anos, entrou no banheiro. Não pude ver o que aconteceu, mas ouvi. Ele mal entrou no banheiro e começou outra sessão de gritos:

- Você sabe que horário de ir ao banheiro é o intervalo. Agora estou limpando aqui. Vocês fazem isso de propósito, esperam a gente começar a limpar só para vir sujar e ficar rindo da gente. – E assim que a responsável pela limpeza do banheiro começou, as outras três reiniciaram o falatório.

Isso foi me dando um mal estar terrível. Percebi que mais que os alunos, quem precisava de ajuda li eram as profissionais – se é que podemos as chamar assim. Em seguida, assim que o menino saiu da banheiro (sem fazer o que queria), vi uma professora com sua turma indo para alguma outra sala. A cena que vi me lembrou as aulas que os alunos do filme “Sociedade dos Poetas Mortos” tinham. Era como se os alunos estivessem em um regime militar ou algo do gênero. Entendo que por serem jovens, devem ter disciplina, entretanto eu vejo muito bem a diferença de disciplina e falta de respeito. E era o segundo caso que estava acontecendo ali. Um uso da autoridade de professora que eu não tenho lembranças da última vez que vi.

E o que isso tudo tem a ver com o RPG? Pois bem; para quem está nessa batalha de inserir o RPG nas escolas, sabe que o grande problema é conseguir convencer a equipe pedagógica que o RPG é uma ferramenta que pode ser muito útil na educação dos alunos. Contudo, percebendo a realidade nessa escola, descobri que apenas inserir o RPG de nada adianta!

Esse colégio que visitei tinha uma excelente infra-estrutura, era limpo e com móveis novos para os alunos, muitos materiais modernos para fazer aulas diferentes e mesmo assim, na prática, era a mesma coisa! Por quê? Porque as pessoas eram as mesmas. Era curioso e triste ao mesmo tempo o rosto dos professores em sala de aula: era nítido que eles não gostariam de estar ali.

Digo que apenas introduzir o RPG não mudará nada, porque a mudança maior deve vir antes do RPG, das tecnologias e de tudo o que for externo. A grande mudança é a de querer fazer algo diferente. Atualmente é fácil encontrar professores que sabem que é preciso mudar a dinâmica das aulas, mas na prática nada fazem.

Digo que, se algum professor mudar internamente, saber de coração que é preciso mudar, e se dispor a fazer algo diferente, não precisará de RPG para ajudá-lo.

No fim, acho que nossa briga nunca foi pela inserção do RPG na escola, mas sim pela conscientização de que algo deve mudar!

Matheus Vieira
Psicólogo
Mestre em Educação
Aplica o RPG em sala de aula desde 2006

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Para melhor discussão neste tópico, uma parcela de um dos textos anteriores de Matheus Vieira no blog da Dragões:

É preciso que os educadores saibam que utilizar o jogo de papéis em um ambiente educacional, possibilita inúmeras descobertas e potencialidades tanto para alunos quanto para eles próprios. Entretanto é uma prática que pode ser barrada por superiores (coordenação, diretores e pedagogas) pela falta de “cunho pedagógico”. Me explico.

É importante entender alguns entraves que normalmente aparecem quando se propõe o jogo de papéis em uma escola. Notem como muitos “superiores” normalmente pensam sobre o uso de jogos na educação: quando a criança está na educação infantil, é permitido que ela brinque e se divirta. É mais que natural que ela faça isso nessa época da vida. Porém, quando cresce, ela deve ser séria, se concentrar em coisas que são importantes, coisas que os levarão a ser alguém na vida; diferentes de jogos e brincadeiras.

Ou seja, o RPG para a Educação Infantil é trabalhado normalmente numa boa, sem uma enxurrada de perguntas de superiores. Já para jovens do Ensino Fundamental ou Médio a coisa muda de figura!

Pergunto: Por que? Por que eles devem aprender coisas sérias, conteúdos para vestibular e o RPG é um jogo? É isso? Jogo é coisa de criança ou coisa de desocupado? São perguntas que me faço quando me deparo com algumas rejeições.

Imaginário, fantasia, emoção, ludicidade farão parte de nossas vidas até morrermos. Não há como fugir delas. Então, porque não aproveitarmos uma prática que além de trabalhar a fantasia e imaginário de cada aluno, também colabora no desenvolvimento do trabalho em equipe, senso crítico, argumentação, diálogo, pesquisa e o comprometimento deles? Duvido que algum professor que esteja lendo isso nunca tenha tido problemas com indisciplina ou falta de interesse na sala de aula.

Sim, o RPG é um jogo, mas não descarta a possibilidade de aprendizado. Pelo contrário, é comum potencializá-lo. Não que ele seja a salvação para a educação nacional, mas é mais uma ferramenta que temos para melhorar.

Comentem.

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A Dragões do Sol Negro é um dos poucos blogs que defendem o RPG acima de um mero hobbie.

Até;
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O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro. Empty Re: O RPG nas escolas - Dragões do Sol Negro.

Mensagem por Dark Seg Nov 29, 2010 9:41 pm

Esse colégio que visitei tinha uma excelente infra-estrutura, era limpo e com móveis novos para os alunos, muitos materiais modernos para fazer aulas diferentes e mesmo assim, na prática, era a mesma coisa! Por quê? Porque as pessoas eram as mesmas.

Aqui explicou tudo.

Willian Godwin (ou algo assim xD) critica esse poder que pais ep rofessores têm sobre crianças. Uma coisa é ter autoridade. Outra é ser autoritário.

Legal a experiência de colocar rpg para as crianças. Afinal, é um jogo que não vem pronto. Não é como um vídeo game que você tem um caminho traçado a fazer. Você faz o caminho. Estimula a criatividade, raciocínio, memória e várias outras coisas.

Mas do que adianta estimular tudo isso quando se repreende as crianças e tiram os sorrisos de seus rostos?
Dark
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